Declaração de interesses:
Para que conste, eu já era dirigente
sindical cerca de 10 anos antes de tornar a ter filiação partidária, e NUNCA,
até hoje, recebi de ninguém qualquer indicação ou ordem sobre como actuar nas
minhas actividades sindicais.
Questão:
Quantos dos dirigentes aqui do CN
podem afirmar isto com verdade?
Esclarecimento:
Não participei no último CN que decidiu
a greve geral (mas justifiquei, como de costume, pois tive aulas na Universidade
de Évora à mesma hora).
Alguns aspectos que não vale a pena
batalhar, para desviar as atenções:
Dados os anos que já sou dirigente
sindical, e as várias greves, gerais ou não, que fiz, não necessito de provar
que sou a favor de se fazer greve, quando se justifica e se tem as condições
para o fazer;
Os sucessivos governos têm-nos dado
razões de sobra para fazer greves, quer sectoriais, quer gerais, praticamente
todos os dias... e este governo tanto ou mais do que outros. E o “desastre” de
pseudo-acordo (ou “acordo de sequestrados”) ao qual a UGT deu cobertura é
certamente uma razão tão válida como outras!
E agora as questões de fundo:
Quem é que conseguiu ver, numa
manifestação com uma mobilização razoável, “a maior manifestação dos últimos 30
anos, com cerca de 300 mil manifestantes”? Não foi certamente na mesma em que
eu estive (e acompanhado por 2 camaradas bem experientes que também não achavam…
Como foi possível criar ilusões de que
os trabalhadores estavam mobilizados para uma nova greve geral, pelo menos ao
nível das 2 últimas? Neste país, certamente que não...
Por que razão se quis precipitar uma
marcação de greve, contra todos os avisos dos dirigentes que estavam no
terreno? Era uma greve contra a UGT? Para provar que ainda fazíamos uma greve
melhor quando não convergíamos para ela com a UGT? Alguém confundiu a direcção
da UGT com os trabalhadores nela filiados...
Houve ou não ingerências externas à
CGTP na marcação desta data? E a imagem de independência e autonomia da Central
saiu reforçada? Cada qual responda...
Houve ou não discordâncias neste CN
sobre a marcação precipitada da greve? De que consenso se fala, então... ou que
falta de consenso é que se pretendeu calar? O unanimismo poderá interessar ao
governo... aos trabalhadores serve sobretudo o debate democrático de opiniões,
de forma plural e aberta... e esconder as diferenças é empobrecer esse
debate... o que é pior num país que está a empobrecer em tudo...
Quem conseguiu ver, na greve geral com
a adesão mais baixa que me lembro, números de 3 milhões de grevistas, e taxas
semelhantes às 2 últimas greves? Estamos a falar do mesmo país... onde em 24 de
Novembro se circulava no centro de Lisboa como se fosse fim de semana, e em 22
de Março como se dum dia normal de trabalho... ou dum outro qualquer país
virtual... o mesmo país virtual do Passos Coelho, onde a crise parece que já
está a acabar... e não é o trabalho que está cada vez mais escasso?
E ainda, por causa do futuro:
No final da greve, os trabalhadores ficaram
mais fortes e mobilizados para a luta, ou mais frágeis e frustrados?
Perante o poder político, criamos
pressão para impedir o avanço de leis cada vez mais injustas? Ou assistiremos,
uma semana depois, à aprovação sossegada dessas mesmas leis, facilitada pelas
fraquezas que o movimento sindical exibiu?
Melhoramos as condições para unir
todos os trabalhadores para resistirem e lutarem, ou, pelo contrário, ajudámos
a cavar entre os trabalhadores as divisões que existem entre as direcções das
confederações? E que perspectivas têm agora?
Havia ou não alternativas de se ir
criando um crescendo de lutas, mesmo sectoriais, em que se maximizassem os
efeitos perturbadores com uma criteriosa escolha de um mínimo de meios...
sobretudo num momento em que muitos já nem podem dispensar um dia de salário?
Quem assume afinal a responsabilidade
pelo enorme erro político-sindical que representou a marcação desta greve
geral, sem estarem criadas as condições para que esta fosse um sucesso?
Termino “roubando” uma expressão ao
Mário Nogueira, que define bem o que eu (e a maioria dos meus camaradas que se
empenharam nestas lutas) sentimos: estamos “de ressaca”... a engolir a
frustração, e iremos discutir o necessário para que se não repita este erro...
pois no final são os trabalhadores que o pagam.
Intervenção de Manuel Pereira dos Santos (SPGL) na
Reunião do Conselho Nacional da CGTP-IN
de 27 Março de 2012
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