19 setembro 2024

Os Sindicatos no Combate ao Racismo e à Xenofobia (Jornal Ação Socialista n.º 1566 de 19.09.2024)

       


Os fenómenos de racismo e xenofobia contra imigrantes ou comunidades de imigrantes a que assistimos em Portugal nos últimos tempos têm causas e responsáveis e, como tal, devem merecer da CGTP-IN e dos seus sindicatos, nos quais os sindicalistas da Corrente Sindical Socialista da CGTP-IN desenvolvem a sua actividade, um feroz e firme combate.

O que está em causa é o modelo de sociedade que, enquanto militantes sindicais, defendemos. Uma sociedade aberta, plural, cosmopolita, que saiba acolher e integrar os trabalhadores imigrantes.

O crescimento da extrema-direita em Portugal levou ao aumento de ataques inaceitáveis a imigrantes e ao crescimento de fenómenos de racismo e xenofobia.

O racismo e a xenofobia só poderão ser eficazmente combatidos através de políticas públicas que permitam a regularização da situação dos imigrantes e promovam condignamente a sua integração no trabalho e na sociedade de acolhimento em geral.

Essa integração terá reflexos positivos na economia, na demografia (através do reagrupamento familiar ou constituição de famílias) e na interculturalidade/cosmopolitismo, pois destrói sentimentos xenófobos.

Sabemos que o contributo dos trabalhadores imigrantes para a Segurança Social e para as finanças públicas excede em muito os apoios de que são beneficiários. Isso deriva do facto de os trabalhadores imigrantes estarem fortemente integrados no mundo do trabalho, de forma especial, na agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca (41,1% total de trabalhadores); alojamento, restauração e similares (31,1%); actividades administrativas (28,1%); e na construção civil (23,2%)[1].

Em termos demográficos, sendo Portugal simultaneamente um país de emigração e de imigração, precisamos de mão-de-obra para os sectores atrás elencados, pelo que é positivo para a economia que Portugal tenha saldos migratórios positivos. Em 2023 verificou-se um acréscimo da população estrangeira residente de 33,6% face a 2022, perfazendo um total de 1 044 606 cidadãos estrangeiros titulares de autorização de residência[2].

Em 2023 assistimos também a um aumento substancial da concessão de títulos de residência face aos anos anteriores, mais 328 978, com destaque para a Autorização de Residência para Cidadãos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa[3].

Os sindicalistas socialistas da CGTP-IN, tendo presente o trabalho desenvolvido ao longo das últimas décadas por esta confederação e pelos seus sindicatos, defendem que aos trabalhadores imigrantes que vivem e trabalham em Portugal devem ser garantidos os mesmos direitos laborais que aos trabalhadores nacionais, nomeadamente no que respeita ao salário, cumprindo-se assim o princípio da igualdade.

Enquanto sindicalistas e cidadãos, mas também enquanto socialistas, sempre defendemos políticas públicas progressistas, uma política de imigração e de asilo que melhore o acolhimento e a integração dos cidadãos estrangeiros que escolhem Portugal para trabalhar e viver, que respeite os direitos humanos e os princípios da dignidade humana. Só assim contribuiremos para prevenir actos de racismo e xenofobia que a direita e extrema-direita potenciam com a sua retórica e com as suas políticas, e combateremos o patronato que promove o dumping social nos locais de trabalho, colocando, desta forma, trabalhadores contra trabalhadores.

Precisamos também de criminalizar as práticas de exploração laboral dos trabalhadores imigrantes, com a responsabilização em todas as fases das cadeias de contratação e subcontratação, bem como o reforço, com meios técnicos e humanos, das instituições competentes para a fiscalização e sancionamento das situações de exploração laboral dos trabalhadores imigrantes.

É neste contexto que se realizam no próximo sábado, 21 de Setembro de 2024, manifestações contra o racismo e a xenofobia, para as quais a Corrente Sindical Socialista da CGTP-IN apela à participação activa de delegados e dirigentes sindicais e da população em geral.

Sob o lema "O país do 25 de Abril não deixa as ruas ao racismo", a manifestação decorrerá em Lisboa, a partir das 15 h, entre o Marquês de Pombal e o Rossio.

Vamos ocupar as ruas em prol da liberdade e democracia, pelo progresso, por uma sociedade mais justa e solidária.

Lisboa, 19 de Setembro de 2024

A CSS da CGTP-IN


[2] População estrangeira residente, Relatório de Migrações e Asilo 2023 da AIMA, Setembro de 2024.

[3] Concessão de títulos de residência, Relatório de Migrações e Asilo 2023 da AIMA, Setembro de 2024.