18 maio 2009

Assim se vê a força do PC...


Assim se vê a força do PC...

Por
Joaquim Jorge Veiguinha


Não me revejo nas ideias e posições políticas do Professor Vital Moreira sobre o movimento sindical. Nas páginas do Público exprimiu a tese de que os sindicatos defendem “interesses corporativos” perante o Governo que é depositário do “interesse geral”. No entanto, repudio veementemente os insultos e as agressões de que foi alvo no decurso da manifestação do 1º de Maio da CGTP. Em democracia não existem delitos de opinião e cada um deve ser livre de defender as suas ideias, posições e projectos políticos mesmo que estes não sejam partilhados pelos outros.


Tão graves como as manifestações arruaceiras foram as tentativas de desculpabilização dos que perpetraram os insultos e as tentativas de agressão a Vital Moreira e à comitiva do PS. O secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, lamentou in locu os tristes eventos, mas logo acrescentou que o facto de haver “trabalhadores em situação precária” pode implicar que “alguns tenham reagido emocionalmente”. A existência de elevados níveis de precariedade laboral em Portugal – encontramo-nos, de facto, em terceiro lugar na UE relativamente aos contratos a termo – não desculpabiliza, de modo algum, uma “reacção emocional” da parte de um grupo de arruaceiros que manchou a credibilidade da CGTP com os seus insultos e tentativas de agressão. Consciente que os seus primeiros comentários “a quente” aos tristes eventos não tinham sido felizes, Carvalho da Silva prontamente pediu desculpas públicas a Vital Moreira, contribuindo com o seu exemplo para dignificar a CGTP e o seu secretário-geral.


O mesmo não se poderá dizer da posição do representante do BE, Miguel Portas. Apesar de repudiar e considerar inaceitável o comportamento sectário de alguns manifestantes, defendeu que “Vital Moreira é um candidato do Governo que dificilmente seria bem recebido pelos trabalhadores”. Com estas considerações, a tentativa de demarcação das manifestações “sectárias” de alguns perde toda a validade. Em primeiro lugar, porque Vital Moreira é candidato às eleições europeias pelo PS e não pelo Governo. Em segundo lugar, depreende-se que “estava mesmo a pedi-las”, pois já devia saber que “não seria bem recebido” pelos trabalhadores. O representante do BE, partido que está constantemente a arvorar-se em “verdadeiro” representante de uma esquerda “traída” pela “ambição de poder” da social-democracia, acaba por utilizar as mesmas tácticas eleitoralistas de que acusa os “partidos do poder” ou do “sistema”: tentar crescer eleitoralmente à esquerda, encostando cada vez mais o PS à direita.


No mínimo surrealista, foi a posição do porta-voz do PCP, Francisco Lopes, que converteu magistralmente os agressores em vítimas de uma campanha negra do PS que visa “o empolamento de incidentes, provocações e insultos contra o PCP”, exigindo a este partido “desculpas públicas” pelas alegadas calúnias dirigidas contra o PCP. Pois claro! O grupo de pobres vítimas injustiçadas que participou activamente nos insultos e nas tentativas de agressão a Vital Moreira e à comitiva do PS estava apenas a manifestar a sua indignação e revolta perante as políticas anti-sociais do Governo.


Não há lugar para dúvidas: no contexto europeu e mundial o PCP é um partido com uma direcção política cada vez mais surrealista. Prova disso, foram as considerações do seu secretário-geral, Jerónimo de Sousa, para quem os tristes eventos do 1º de Maio foram “quase uma prenda” para o PS que “quer tirar benefícios da situação” (Público, 4.05.09). Certamente! Os insultos e tentativas de agressão até foram uma espécie de gesto carinhoso. Imagino o que seriam se o PCP estivesse no poder. Em suma, com estes argumentos de peso se vê claramente qual é a força do PC.


Joaquim Jorge Veiguinha

Membro do Conselho Coordenador da Corrente Sindical Socialista da CGTP/IN


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