14 fevereiro 2024

Aos partidos, o que é da política, à CGTP-IN, o que é do sindicalismo

Posição sobre o Guião para Plenário de Trabalhadores

 

A divulgação do “Guião para Plenário de Trabalhadores” merece a seguinte análise por parte dos membros dos órgãos de Direcção da CGTP-IN, abaixo assinados, sindicalistas socialistas e independentes que exercem a sua acção sindical no âmbito da Corrente Sindical Socialista da CGTP-IN e membros da Comissão Executiva e Conselho Nacional. Esta análise é feita segundo três dimensões:

1)     A legitimidade e conteúdo;

2)      A questão política;

3)     A questão sindical.


1)      Sobre a legitimidade e conteúdo:

A elaboração de um “Guião para Plenário de Trabalhadores” não está em causa. Foi produzido pelo Departamento de Acção Reivindicativa, da mesma forma que outros departamentos emitem posições e orientações para a acção sindical sobre assuntos da sua responsabilidade. É preciso, contudo, referir que este, como outros documentos do género, não foi aprovado nos órgãos de Direcção (Conselho Nacional e Comissão Executiva), nem sequer foi feita a sua revisão de forma mais alargada, fosse em algum grupo de trabalho constituído ou pelos chamados dirigentes permanentes.

O problema, neste caso concreto do “Guião”, diz respeito ao seu conteúdo político-sindical. Uma matéria desta dimensão obrigava a que houvesse um amplo consenso, assegurado previamente, em torno deste documento.

Concretamente, vamos aos factos objectivos: no Conselho Nacional de 25 de Janeiro deste ano houve propostas de alteração da resolução político -sindical quanto à forma de apelar ao voto nas eleições de 10 de Março que, embora tenham sido recusadas democraticamente, ilustram as divergências de posição relativamente à matéria em causa. Essa pluralidade de posições não foi tida em conta, de forma sectária, pelo que, no “Guião” agora editado, se veicula uma posição que só tem uma intenção: apelar ao voto no PCP/CDU!

As posições expressas neste “Guião” são inaceitáveis porque não têm em conta a pluralidade político-sindical da CGTP-IN e reflectem apenas a perspectiva limitada da Corrente Sindical do PCP; é uma posição, um guião sectário, que fere frontalmente o princípio de UNIDADE. 

Acresce que, ao criticar abertamente os partidos políticos devido às suas propostas de salário mínimo nacional (SMN), a CGTP-IN, através deste “Guião”, substitui-se à natural luta político-partidária que deve decorrer entre os partidos políticos no quadro do normal combate partidário.

Neste sentido, o “Guião” e respectivo conteúdo, repete-se, ferem o princípio fundador da CGTP-IN: a unidade.

Enquanto membros do Conselho Nacional da CGTP-IN e da sua Comissão Executiva, reafirmamos que, nas eleições de 10 de Março, é preciso votar para repor e conquistar direitos – incentivando a votar nos partidos das esquerdas!

É fundamental que os trabalhadores e as trabalhadoras e os reformados e as reformadas votem nos partidos das esquerdas, respeitando a liberdade de escolha de cada trabalhador(a) e reformado(a) mas, coerentes com o projecto sindical unitário, democrático e de esquerda, entendemos que os problemas económicos e sociais somente poderão ser solucionados pelos governos das esquerdas enquanto que, pelo contrário, os da direita os agravam.

Neste plano, a CGTP-IN deve apelar a todos os partidos das esquerdas para que, após as eleições e independentemente da sua representatividade parlamentar, convirjam para a constituição de um Governo Democrático das Esquerdas, única forma de resolver os problemas económicos e sociais e combater eficazmente a direita e a extrema-direita.


2)      Sobre a questão política:

Como atrás se refere, a CGTP-IN, com o “Guião para Plenário de Trabalhadores” e a crítica às propostas de SMN feita pelos partidos, está a entrar num campo que extravasa a acção e a luta sindicais, especialmente num tempo de pré-campanha eleitoral.

As reivindicações e a luta dos sindicatos e da CGTP-IN são, dentro do princípio de um sindicalismo que defende os interesses da classe trabalhadora, contra o patronato, contra as políticas de direita e contra os governos da direita e não contra os partidos políticos das esquerdas.

O apelo ao voto, directo ou indirecto, num partido político em concreto desrespeita a larga maioria dos trabalhadores e trabalhadoras associados/as aos sindicatos da CGTP-IN que votam de forma plural nos partidos das esquerdas.

Deixemos a político-partidária para os partidos políticos e cuidemos da acção e da luta político-sindicais.


3)      Sobre a questão sindical:

O espaço de intervenção e influência da CGTP-IN vai muito para além deste ou daquele partido político, seja o PCP seja o PS ou qualquer outro. Se a sua intervenção é alicerçada nos locais de trabalho (onde existem trabalhadores de todos os partidos, unidos para alcançarem melhores direitos e salários), a sua influência exerce-se em toda a sociedade, pois a CGTP-IN é a maior confederação sindical de Portugal.

É exactamente por esta razão que as suas posições político-sindicais devem ter em conta todas as correntes de opinião político-ideológicas (COPI) que a compõem e lhe dão força nos locais de trabalho e influência na sociedade.

As suas justas reivindicações, acção e luta, desenvolvem-se em função da forma como nos organizamos, da defesa dos interesses da classe trabalhadora que fazemos e que assumimos e dos princípios da unidade, democracia, independência, solidariedade e sindicalismo de massas.

A par destes princípios confederais, nós, os abaixo assinados, realçamos a AUTONOMIA SINDICAL, um outro princípio sindical basilar que agora, com este “Guião”, foi igualmente ferido pelas razões atrás descritas – e, se tivesse sido respeitado, jamais este “Guião” enfermaria dos problemas apontados.

Para concretizarmos os nossos objectivos, em defesa dos interesses da classe trabalhadora, mas também de outras camadas da população mais vulneráveis, precisamos de alargar a nossa influência nos locais de trabalho e na sociedade e não colocarmos esta imprescindível organização de trabalhadores que é a CGTP-IN ao serviço de um partido político, seja do PCP, como se tem constatado, ou de qualquer outro.

Uma CGTP-IN que afunile a sua acção e que esteja dependente de um partido político não serve Portugal, não serve os interesses da classe trabalhadora.

A CGTP-IN, se depender dos sindicalistas socialistas e independentes que connosco trabalham, continuará a ser a mais representativa confederação de trabalhadores em Portugal. Uma confederação plural, democrática, independente, solidária, de massas e autónoma, que defende intransigentemente os interesses da classe trabalhadora.

Esta, sim, é a nossa CGTP-IN – por este conjunto de razões, rejeitamos totalmente o “Guião” em causa, afirmamos que não o utilizaremos na acção sindical que realizaremos e alertamos os dirigentes da CGTP-IN para os efeitos negativos da sua edição e utilização.

Lisboa, 14 de Fevereiro de 2024

Os subscritores:

Fernando Gomes, Alexandra Costa, Francisco Medeiros, Hugo Wever, João Maneta, José Pinheiro, Juan Ascenção, Júlia Bogas Coelho, Júlia Ladeiro, Ludovina Sousa, Luís Dupont, Luísa Barbosa, Maria Fernanda Moreira, Maria Filomena Correia, Maria Graça Silva, Pedro Martins, Rui Tomé, Susana Silva e Vivalda Silva.

12 fevereiro 2024

FALECEU UM GRANDE AMIGO DA CORRENTE – EDUARDO ESTEVEZ, SINDICALISTA ARGENTINO E DIRIGENTE SINDICAL MUNDIAL

Faleceu Eduardo Estevez, sindicalista argentino e dirigente sindical mundial!

Filho de galegos emigrados na Argentina, Eduardo envolveu-se nas lutas sociais e sindicais desde muito novo.

Trabalhador da Administração Publica, foi sindicalista da ATE – Associação dos Trabalhadores do Estado, e da CLATE – Confederação Latina Americana dos Trabalhadores do Estado, na quais exerceu elevadas responsabilidades.

A partir do início da década de noventa do século passado, foi Secretário-geral adjunto da CMT - Confederação Mundial do Trabalho, de tradição cristão e inspiração humanista.

Esta era uma das três confederações sindicais mundiais que existiram até 1 de Novembro de 2006, quando se dissolveu para, juntamente com a CISL – Confederação Internacional dos Sindicatos Livres, fundarem a CSI – Confederação Sindical Internacional, que é actualmente a maior confederação sindical mundial.

Eduardo Estevez foi um conhecido e respeitado dirigente sindical internacional, que contribuiu fortemente para a fundação da CSI, entendida como a forma de combater eficazmente os efeitos nefastos da globalização e as consequências destrutivas do neoliberalismo. Combatente da Liberdade, enfrentou a Ditadura argentina, razão pela qual teve que se refugiar na Venezuela. Defensor dos Direitos Humanos, apoiou inúmeras causas humanistas, com destaque para o direito do Povo Palestiniano a ter um Estado Independente.

Eduardo Estevez conhecia o movimento sindical internacional e também a realidade sindical portuguesa. Por essa razão acompanhou em particular o processo de discussão interna na CGTP-IN sobre a sua possível filiação na CSI. É neste quadro que participou em várias conferências e seminários organizados pela CSS da CGTP-IN, tendo compreendido e apoiado fraternalmente a posição estratégica da Corrente na CGTP-IN.

A Corrente Sindical Socialista da CGTP-IN:

Á família, que perdeu o seu ente querido, enviamos sentidos pêsames;

Á CLATE, que perdeu um dirigente histórico, endereçamos os nossos sentimentos;

Aos Amigos e Camaradas, que perderam um Companheiro de todas as horas, dirigimos as nossas condolências.

O Secretariado Nacional da CSS da CGTP-IN

Lisboa, 01 de Fevereiro de 2024