12 março 2025

FALECEU DANIEL CABRITA, UMA MEMÓRIA VIVA DO SINDICALISMO PORTUGUÊS

 QUE O SEU EXEMPLO SEJA UMA INSPIRAÇÃO PARA AGIRMOS NESTES TEMPOS EM QUE VIVEMOS

Faleceu Daniel Cabrita.

Na História do Sindicalismo em Portugal a partir dos anos sessenta do século XX, Daniel Cabrita tem um merecido lugar cimeiro. A sua vida é um exemplo de abnegação ao sindicalismo, o mesmo é dizer ao combate dos trabalhadores e trabalhadoras por mais direitos e melhores salários, pela Justiça Social, pelo 25 de Abril e, em particular, de dedicação à CGTP-IN.

A vida de Daniel Cabrita confunde-se com a História contemporânea de Portugal, no campo sindical.

Em 3 de Agosto de 1968, o ditador Oliveira Salazar teve um acidente que o impossibilitou definitivamente de continuar a exercer a sua função de Presidente do Conselho de Ministro. A partir de 27 de Setembro desse ano, Marcelo Caetano substitui-o nessa função. Considerando o desaparecimento da figura tutelar que o fundou, M. Caetano realizou uma operação de maquilhagem do regime fascista para lhe dar continuidade.

Entre as inúmeras medidas dessa operação, foram alteradas várias legislações referentes às relações de trabalho, à contratação colectiva e aos sindicatos, os então designados “sindicatos nacionais”, conforme a designação da organização corporativa do regime.

É neste contexto que Daniel Cabrita, natural do Barreiro, onde nasceu em 1938 e enquanto trabalhador bancário no Banco TOTTA & AÇORES, é um dos muitos antifascistas que, aproveitando-se dessa (falsa) abertura da ditadura, se integrou na actividade sindical, concretamente, no seu sindicato, o Sindicato Nacional dos Bancários do Sul e Ilhas.

Depois do natural percurso como activista sindical sob o fascismo, ou seja, alvo de vigilância, perseguições e intimidações, tomou posse como presidente do sindicato em Janeiro de 1969. Este facto representou que o sindicato passou a ter uma Direcção de confiança dos trabalhadores e tinha saído do controle do Governo fascista.

Nesta qualidade, interveio na actividade sindical nos bancários, mas não só, pois alargou a sua participação a outras actividades sindicais que então se desenvolveram.

Concretamente, também noutros sindicatos tinha havido processos semelhantes ao do Sindicato dos Bancários e neles tinham sido eleitas direcções sindicais de confiança dos trabalhadores.

É neste quadro, que se realizaram várias reuniões entre estes sindicatos, da qual emergiu, em 1 de Outubro de 1970, a INTERSINDICAL. Daniel Cabrita participou activamente neste processo sindical.

Devido a este empenhamento, Daniel Cabrita foi preso pela PIDE-DGS em Junho de 1971, acusado de ser membro do PCP. Com a prisão política, veio a tortura e a condenação em tribunal, tendo sido libertado em Junho de 1973. Esta prisão teve o repudio de muitas confederações sindicais internacionais e a respectiva solidariedade ao Daniel Cabrita.

Em Portugal, a onda de solidariedade foi muito significativa, destacando-se a manifestação de solidariedade de centenas de bancários realizada em Lisboa à hora do almoço, que enfrentou a polícia.

Após o 25 de Abril, Daniel Cabrita exerceu funções no Ministério do Trabalho e, a partir de 1976, passou a integrar os quadros da CGTP-IN, como adjunto do Coordenador, depois, designado Secretário-geral.

Daniel Cabrita foi um Homem que viveu intensamente as transformações políticas do seu tempo. Pessoalmente, o que se destacava nele, era o seu profundo humanismo.

Se, antes do 25 de Abril, a acção sindical tinha uma indiscutível e totalmente necessária dimensão unitária entre todos os activistas antifascistas, independentemente das opções ideológicas de cada um(a), o que implicava uma abordagem humanizada nas relações políticas, a singularidade de Daniel Cabrita é que nunca perdeu essa característica humana depois da Revolução.

Convicto, mas sóbrio, o Daniel relacionava-se cordialmente com todos os sindicalistas. Mesmo quando as discussões eram duras, não se lhe sentia animosidade, mas, sim, uma atenção que transmitia respeito pelas posições que cada um(a) defendia, mesmo quando se sabia que discordava delas. Esta discreta solidez emocional, mesmo nos momentos mais tensos, fazia do Daniel Cabrita um factor de estabilidade unitária.

Nos tempos turbulentos que estamos a viver, em que grandes e profundas transformações reaccionárias estão a decorrer velozmente, o exemplo do percurso de vida e da entrega a um ideal do Daniel Cabrite e, em particular, das suas características pessoais, é profundamente inspirador.

Combater para vencer a actual situação político-social implica regressar às origens em muitas dimensões, em particular, à unidade, à fraternidade e à solidariedade, acções que o Daniel efectivou e partilhou abundantemente com aqueles que tiveram o ensejo de trabalhar com ele.

À família, aos Amigos e à CGTP-IN, a Corrente Sindical Socialista da CGTP-IN expressa as suas mais sentidas condolências pela perda do Daniel Cabrita.

Lisboa, 12 de Março de 2025

O Secretariado Nacional da CSS da CGTP-IN


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