QUE O SEU EXEMPLO SEJA UMA INSPIRAÇÃO PARA AGIRMOS NESTES TEMPOS EM QUE VIVEMOS
Faleceu
Daniel Cabrita.
Na
História do Sindicalismo em Portugal a partir dos anos sessenta do século XX, Daniel
Cabrita tem um merecido lugar cimeiro. A sua vida é um exemplo de abnegação ao
sindicalismo, o mesmo é dizer ao combate dos trabalhadores e trabalhadoras por
mais direitos e melhores salários, pela Justiça Social, pelo 25 de Abril e, em
particular, de dedicação à CGTP-IN.
A
vida de Daniel Cabrita confunde-se com a História contemporânea de Portugal, no
campo sindical.
Em
3 de Agosto de 1968, o ditador Oliveira Salazar teve um acidente que o
impossibilitou definitivamente de continuar a exercer a sua função de
Presidente do Conselho de Ministro. A partir de 27 de Setembro desse ano,
Marcelo Caetano substitui-o nessa função. Considerando o desaparecimento da
figura tutelar que o fundou, M. Caetano realizou uma operação de maquilhagem do
regime fascista para lhe dar continuidade.
Entre
as inúmeras medidas dessa operação, foram alteradas várias legislações
referentes às relações de trabalho, à contratação colectiva e aos sindicatos,
os então designados “sindicatos nacionais”, conforme a designação da
organização corporativa do regime.
É
neste contexto que Daniel Cabrita, natural do Barreiro, onde nasceu em 1938 e enquanto
trabalhador bancário no Banco TOTTA & AÇORES, é um dos muitos antifascistas
que, aproveitando-se dessa (falsa) abertura da ditadura, se integrou na
actividade sindical, concretamente, no seu sindicato, o Sindicato Nacional dos
Bancários do Sul e Ilhas.
Depois
do natural percurso como activista sindical sob o fascismo, ou seja, alvo de
vigilância, perseguições e intimidações, tomou posse como presidente do sindicato
em Janeiro de 1969. Este facto representou que o sindicato passou a ter uma
Direcção de confiança dos trabalhadores e tinha saído do controle do Governo
fascista.
Nesta
qualidade, interveio na actividade sindical nos bancários, mas não só, pois
alargou a sua participação a outras actividades sindicais que então se
desenvolveram.
Concretamente,
também noutros sindicatos tinha havido processos semelhantes ao do Sindicato
dos Bancários e neles tinham sido eleitas direcções sindicais de confiança dos
trabalhadores.
É
neste quadro, que se realizaram várias reuniões entre estes sindicatos, da qual
emergiu, em 1 de Outubro de 1970, a INTERSINDICAL. Daniel Cabrita participou activamente
neste processo sindical.
Devido a este empenhamento, Daniel Cabrita foi preso pela PIDE-DGS em Junho de 1971, acusado de ser membro do PCP. Com a prisão política, veio a tortura e a condenação em tribunal, tendo sido libertado em Junho de 1973. Esta prisão teve o repudio de muitas confederações sindicais internacionais e a respectiva solidariedade ao Daniel Cabrita.
Em
Portugal, a onda de solidariedade foi muito significativa, destacando-se a
manifestação de solidariedade de centenas de bancários realizada em Lisboa à
hora do almoço, que enfrentou a polícia.
Após
o 25 de Abril, Daniel Cabrita exerceu funções no Ministério do Trabalho e, a
partir de 1976, passou a integrar os quadros da CGTP-IN, como adjunto do Coordenador,
depois, designado Secretário-geral.
Daniel
Cabrita foi um Homem que viveu intensamente as transformações políticas do seu
tempo. Pessoalmente, o que se destacava nele, era o seu profundo humanismo.
Se,
antes do 25 de Abril, a acção sindical tinha uma indiscutível e totalmente
necessária dimensão unitária entre todos os activistas antifascistas,
independentemente das opções ideológicas de cada um(a), o que implicava uma
abordagem humanizada nas relações políticas, a singularidade de Daniel Cabrita
é que nunca perdeu essa característica humana depois da Revolução.
Convicto,
mas sóbrio, o Daniel relacionava-se cordialmente com todos os sindicalistas. Mesmo
quando as discussões eram duras, não se lhe sentia animosidade, mas, sim, uma
atenção que transmitia respeito pelas posições que cada um(a) defendia, mesmo
quando se sabia que discordava delas. Esta discreta solidez emocional, mesmo
nos momentos mais tensos, fazia do Daniel Cabrita um factor de estabilidade
unitária.
Nos
tempos turbulentos que estamos a viver, em que grandes e profundas
transformações reaccionárias estão a decorrer velozmente, o exemplo do percurso
de vida e da entrega a um ideal do Daniel Cabrite e, em particular, das suas características
pessoais, é profundamente inspirador.
Combater
para vencer a actual situação político-social implica regressar às origens em
muitas dimensões, em particular, à unidade, à fraternidade e à solidariedade, acções
que o Daniel efectivou e partilhou abundantemente com aqueles que tiveram o ensejo
de trabalhar com ele.
À família, aos Amigos e à CGTP-IN, a Corrente Sindical Socialista da CGTP-IN expressa as suas mais sentidas condolências pela perda do Daniel Cabrita.
Lisboa, 12 de Março de 2025
O Secretariado
Nacional da CSS da CGTP-IN

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