Opinião
Por Carlos Trindade
Membro da Comissão Executiva do CN da CGTP-IN
Secretário-Geral da Corrente Sindical Socialista da CGTP-IN
Escrevia Camões no seu tempo: “Rei fraco faz fraca forte gente; rei forte faz forte fraca gente!”. Este verso nunca foi tão actual como agora!
Efectivamente, quem se
encontra nos órgãos do Poder político, muito em especial, o PR, dão substância
e actualidade à asserção política do L.V. Camões! O PR é o grande responsável
pela rápida degradação da nossa “coisa pública”– sempre pensei que ele era o
ideólogo e o estratega da actual situação politica, ou seja, da queda do
governo do PS, da “negociação” do Memorando com a Troika e do Programa
politico-governamental do governo PSD/CDS e da sua estratégia “de ir mais longe”
do que as imposições que a Troika fez na altura ao José Sócrates.
Hoje, actualmente, a
actuação de Cavaco Silva confirma esta análise. Aníbal Cavaco Silva é um dos
poucos políticos que tem a consciência plena da importância de os três órgãos
de soberania (presidência da republica, Assembleia da Republica, governo)
estarem sintonizados ideológica, estratégica e politicamente. Ele adquiriu esta
consciência não só por ter incorporado o pensamento politico de Sá Carneiro
como de já ter tido a experiência, enquanto primeiro-ministro, de ter que se
afrontar, de luva branca calçada, com um PR – Mário Soares – que tudo fez
institucional e sibilinamente para lhe criar dificuldades politicas na
aplicação do seu Programa.
Por isto, Cavaco Silva tudo
fará, mas TUDO, para que o actual quadro politico não tenha alterações. Ele não
está a deixar apodrecer a situação – ele está a gerir politicamente com pinças
a actual situação para que ele se mantenha. A actual situação de verdadeiro
apodrecimento é instrumental – o objectivo capital é manter o actual quadro
pois a alternativa de convocar eleições é mil vezes pior porque provocará uma
alteração profunda e substancial devido á previsível perda de maioria da
Direita, o que impossibilitaria a aplicação do seu Programa politico! O
apodrecimento político a que assistimos é um mal menor – o mal maior era a
Direita perder o poder politico que actualmente possui e, consequentemente,
tornar-se incapaz de concretizar a sua verdadeira “revolução” conservadora e
neoliberal!
A este propósito poderemos
comparar este comportamento com o que António Guterres teve quando, após perder
as eleições autárquicas, se demitiu e requereu eleições. Dar a palavra ao Povo
para que, conforme disse, ”não cairmos no pântano!” - é assim que um Homem com
sentido de Estado actua: preocupa-se com a comunidade!
Pelo contrário, hoje, quem
se encontra a comandar os três órgãos de poder político tem uma visão de grupo,
de facciosismo, mais preocupado com o seu projecto ideológico do que com o
Estado enquanto emanação organizada da comunidade politica. E Cavaco Silva tem uma aguda
compreensão desta situação e é um homem de grupo, sectário, de amiguismos – e
tudo fará para a manter!
Neste contexto, mais
surpreendente (e merecedora de dura critica!) surge a posição do PCP e do BE
quando, em 2011, votaram ao lado do PSD e do CDS contra o PEC IV e,
consequentemente, contribuíram consciente e activamente para o afastamento da
Esquerda socialista do Governo e para dar a vitória à Direita.
O PCP e o BE não perceberam
os perigos reais que existiam ou foram enganados pela sua própria propaganda,
quando repetidamente afirmavam que “o PS e a Direita são todos farinha do mesmo
saco”? Mas, atenção, o tempo que nos espera é mais importante do que aquele que
passou.
Hoje, a forte gente é
comandada por fraca gente – e a forte gente, o Povo, torna-se fraca, ou seja,
surpreendida e desorientada. O que se passa? Porquê que o governo está agarrado
ao Poder? Porquê que o Presidente permite a continuação desta situação? Como é
que vamos sair desta situação? Eles querem todos é tacho!
Este é o sentido geral as
conversas de café ou nos transportes públicos, pouco reflectidas e sustentadas,
é certo, mas são a voz da generalidade do Povo sofredor e revoltado, que vive,
se está empregado, com 485 euros do SMN ou 500 ou 600 euros ou com o Subsidio
de Desemprego, se for um dos cerca de um milhão de desempregados e tiver a
sorte de ser um dos que o recebe.
É neste contexto que o
exemplo de António Guterres deve ser relevado! É exactamente devido à sua
afirmação, para sairmos do pântano em que os actuais governantes da Direita nos
meteram e para o qual nos querem continuar a mergulhar cada vez mais, que a
exigência de demissão do governo e a realização de eleições tem toda a
actualidade e pertinência!
Naturalmente que Cavaco
Silva tudo fará para que tal não suceda – mas quanto mais tempo durar a actual
situação mais difícil será sairmos dela! Só com a demissão do governo e a
convocatória de eleições, dando a palavra ao Povo, este afastará a fraca gente
e recuperará a sua fortaleza! Cavaco Silva percebe isto – por isso não exerce a
sua magistratura de influência! Por isto, para bem da Republica e do Povo, o
combate do forte Povo tem que continuar para afastar a fraca gente que o
empobrece e enfraquece – começando no PR!
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