Faleceu a Maria do Carmo Tavares, dirigente histórica da CGTP-IN e sindicalista da Corrente Opinião Politico-ideológica do PCP.
Porém, é como dirigente da CGTP-IN que a Maria do Carmo se destaca no sindicalismo e na Sociedade e demonstra o seu conhecimento e capacidade na área do Estado Social. Efectivamente, é durante os cerca 35 anos em que foi um importante quadro dirigente da CGTP-IN, para a direcção da qual foi eleita na sequência do congresso confederal de 1977, que a Maria do Carmo expressou o seu “nervo sindical”.
O Congresso de 1977, foi o culminar de um importante processo sindical iniciado após o 25 de Novembro de 1975.
A partir de Janeiro de 1976, abriu-se na então chamada INTERSINDICAL NACIONAL (IN), após o Congresso de Julho de 1975, em pleno PREC, um processo politico-sindical de enorme tensão, quer sobre o papel e o funcionamento radical e sectário da confederação durante este período quer sobre a estratégia sindical a prosseguir após ter terminado essa deriva extremista. Neste contexto, travou-se um fortíssimo confronto sindical e politico-ideológico entre a Corrente Opinião Politico-ideológica do PCP, que dominava totalmente o Secretariado Nacional da IN e a sua estrutura, e todas as restantes Correntes sindicais existentes na IN, que tinham um vasto capital de queixa contra a sua acção e funcionamento.
Este confronto culminou no então designado CONGRESSO DE TODOS OS SINDICATOS, em Janeiro de 1977. Neste congresso, no qual participaram os sindicalistas de todas as Correntes sindicais, excepto os da Corrente Sindical do PS, que irão fundar mais tarde a UGT, em Outubro de 1978, a IN refundou-se na CGTP-IN e produziram-se alterações fundamentais na confederação, quer quanto à sua concepção e estratégia, quer quanto à composição dos seus órgãos quer quanto ao seu funcionamento.
No Secretariado Nacional da CGTP-IN que então foi eleito, estavam representadas todas as Correntes sindicais que tinham participado no Congresso, e houve, efectivamente, uma alteração real na concepção de sindicalismo, particularmente, quanto à importância atribuída à Unidade, e de estratégia sindical, em especial, com um distanciamento concreto face às posições do PCP, um afastamento do sectarismo, a assumpção de um funcionamento democrático e uma partilha de responsabilidades entre todos os dirigentes. Este processo refletiu-se directamente na composição da Comissão Executiva então eleita de nove membros, seis da Corrente Sindical do PCP e os outros três das restantes Correntes sindicais.
A Maria do Carmo foi um dos seis quadros da CS do PCP eleitos para esta Comissão Executiva, onde assumiu o Departamento dos Assuntos Sociais.
Durante toda a sua permanência na Comissão Executiva, a Maria do Carmo debateu em milhares de areópagos o Estado Social. Desde reuniões sindicais e plenários de trabalhadores até reuniões ministeriais, nas suas várias dimensões (Segurança Social, Saúde, Educação, fiscalidade, entre outras), sempre defendendo com inteligência e vigor a sua existência como elemento fundacional da Democracia.
Por outro lado, ao nível dos órgãos dirigentes, a Maria do Carmo unia a capacidade de debater as matérias com profundidade e rigor com uma profunda consciência da importância da unidade e democracia interna. Assim, sempre de forma clara mas franca, enlaçava a defesa fundamentada das suas propostas sindicais e posições politico-ideológicas com a protecção firme do projecto da CGTP-IN. Por isso, era por todos respeitada!
Ilustramos esta prática de trabalho saudável da Maria do Carmo recordando que, dos vários acordos que foram subscritos pela CGTP-IN com um governo, um deles foi com o Governo de António Guterres, em 2001, sendo Ministro do Trabalho e Segurança Social Paulo Pedroso – e foi exactamente respeitante à Segurança Social! Este facto, ainda hoje portador de grande importância politico-sindical, demonstra a sua capacidade sindical e a sua visão estratégica.
A CGTP-IN perdeu uma das suas referências maiores e esteio de um sindicalismo activo, interveniente, reivindicativo, politico-ideológico, combativo – que se impunha pelo conhecimento, capacidade, relacionamento e firmeza e nunca pelo sectarismo e o radicalismo!
A Corrente Sindical Socialista da CGTP-IN presta homenagem à Maria do Carmo Tavares, uma sindicalista combativa e inspiradora da CGTP-IN; dirige à Direcção da CGTP-IN as suas sinceras condolências; endereça à sua família e amigos os seus mais sentidos pêsames – honra à sua memória!
Lisboa, 25 de Dezembro de 2024
O Secretariado Nacional da CSS da CGTP-IN
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