Autor (a): José Pinheiro
Sobretudo a
partir do início dos anos oitenta do séc. XX, o neoliberalismo tem marcado a
agenda política, nomeadamente na Europa e na América. Grande parte do seu
discurso, no que à educação diz respeito, assenta o seu enfoque nos problemas,
naquilo a que designaram crise educativa.
Muitos dos
temas em discussão foram determinados por esta corrente, medidas então
preconizadas pelo neoliberalismo galopante: cheque-ensino, liberdade de escolha
ou liberdade de ensino, privatização, rankings...
São teses que
tiveram um grande impulso no tempo de Reagan e Tatcher e que
continuam a fazer o seu curso até agora. Frequentemente apresentaram-se como um
voltar às “boas” receitas do passado. O futuro o dirá se onda gigante ou arrufo
de passadistas de que não rezará a História.
De
certa maneira, e no que à educação diz respeito, trata-se de pôr em prática a “Teoria X”, tal como a descreveu Douglas
McGregor, nos anos 60. Aplicada à situação dos professores, diríamos que os
mesmos seguem uma rotina rígida, com pouca autonomia, com controle por meio de
inspeções, metas e relatórios. Há falta de incentivo para inovação e
colaboração. Sentem-se como executores, não como educadores. Como resultado
provável, baixa motivação, risco de esgotamento (burnout) e resistência
a mudanças pedagógicas.
Douglas
McGregor, no seu livro “The Human Side of Enterprise”, em português “O
Lado Humano da Empresa”, editado pela Livraria Clássica Editora e, mais
recentemente, pela Ed. Martins Fontes (1999), apresenta as duas visões opostas
sobre a gestão e comportamento humano no trabalho. Na “Teoria X”, visão
tradicional e pessimista, os gestores partem da suposição que os trabalhadores
são naturalmente preguiçosos e evitam o trabalho sempre que possível, têm
aversão à responsabilidade, precisam de ser controlados, vigiados e punidos,
não se motivam pela autorrealização e evitam mudanças ou desafios. Gestores que
seguem esta teoria tendem a ter um estilo autoritário, centralizador e baseado
em regras rígidas, controlo intenso e punições. É o modelo que vê os
funcionários como engrenagens e não como pessoas capazes de iniciativa. As
“engrenagens” do filme “Modern times” (Tempos modernos), de Charlie Chaplin…
Em contraponto,
McGregor propôs a “Teoria Y” como alternativa positiva: acredita que as
pessoas gostam de trabalhar, valorizam a autonomia, o reconhecimento e a
responsabilidade. Mais: parte do princípio que as pessoas são criativas e
capazes de se autogerir quando as condições são adequadas.
O que
pretendemos?
● Uma escola
que procura concretizar o ideal da igualdade de oportunidades, da inclusão;
● Uma escola
para a cidadania e emancipadora;
● Uma escola
que procura por regra fundamentar-se nos dados das Ciências da Educação;
● Uma escola
que assume uma posição progressista.
Em
suma: impõe-se a construção de uma escola que responda às exigências de uma
sociedade democrática.
A defesa do
acesso e sucesso de largos setores da sociedade à escolaridade esteve sempre
associada à defesa de uma sociedade mais igualitária e mais livre. Sobretudo
nos tempos que atravessamos torna-se incontornável ter isto bem presente, e
agir em conformidade.
Enquanto
o liberalismo propôs os direitos do homem e do cidadão, o neoliberalismo
centra-se no mercado, remetendo o cidadão para a dimensão de cidadão-consumidor.
É a “liberdade de supermercado”: acontece é que, tendo a liberdade de
comprar, muitos ficam de fora porque não têm os meios para aceder ao que
precisam.
No
discurso neoliberal a educação deixa de pertencer ao domínio do social e do
político para se integrar no mercado, com a ‘neutralidade’ própria de
qualquer produto ou mercadoria.
Perante esta encruzilhada exige-se não simplesmente um olhar técnico, mas uma abordagem política assumida.
CSS da CGTP-IN/Educação
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