Faleceu, vítima de doença prolongada com 76 anos, Joaquim Piló, natural da Nazaré, pescador e defensor acérrimo dos direitos dos pescadores e, desde sempre, um dos líderes históricos dos pescadores em Portugal.
Piló andou na faina do bacalhau na Terra Nova no tempo do fascismo e do famigerado Almirante Tenreiro que, dirigindo então a Brigada Naval, foi um dos esteios da ditadura salazarista, que definiu uma política que beneficiava os armadores, assegurando-lhes o financiamento, o fornecimento de mão-de-obra e outras facilidades que maximizava os lucros dos armadores.
As condições de vida e trabalho na frota bacalhoeira eram sub-humanas. As condições de trabalho eram terríveis, em especial, a segurança no trabalho (os acidentes mortais eram frequentes), as cargas horárias diárias elevadíssimas (chegava a haver jornadas diárias de 20 horas), o exercício de funções era duríssimo e as relações hierárquicas autoritárias e prepotentes. A condição de vida num lugre bacalhoeiro tinha poucas condições de higiene e salubridade e total ausência de privacidade.
Foi neste ambiente de vida e trabalho, que decorria anualmente de abril a novembro, que se forjou a personalidade de Joaquim Piló e lhe imprimiu a marca indelével da sua vida - defensor acérrimo dos direitos dos pescadores.
Os pescadores, proibidos de terem sindicatos pelo Estado Novo, imediatamente a seguir ao 25 de Abril, constituíram-nos. Piló desde o início esteve envolvido neste processo e foi um dos muitos que contribuiu para a formação do Sindicato Livre dos Pescadores, tendo integrado a respectiva Direcção e, posteriormente, assumindo a própria presidência do sindicato.
O Piló, como era familiarmente conhecido, foi um militante dedicado, seja no Mundo do Trabalho seja na acção política. Ao longo de dezenas de anos e em todas as circunstâncias, sempre assumiu a sua condição de pescador e de sindicalista da CGTP-IN.
No Mundo do Trabalho, foi dirigente da CGTP-IN e da União dos Sindicatos de Lisboa; na acção política, foi militante da UDP e, posteriormente, integrou o Bloco de Esquerda quando este foi fundado.
Na CGTP-IN, era uma das vozes críticas de muitas orientações confederais e proponente de alternativas de orientação sindical, mas sempre defensora de uma acção sindical unida na defesa dos interesses da Classe Trabalhadora. Por esta razão, o Piló colocava os princípios da CGTP-IN à frente dos interesses de cada Corrente Opinião Politico-ideológica, começando pela sua própria.
Joaquim Piló e os militantes da CSS da CGTP-IN estiveram muitas vezes em sintonia nos debates ideológicos travados no seio da CGTP-IN, assim como também estiveram muitas outras vezes em desacordo. Mas este é o processo normal de uma relação entre militantes livres e conscientes que intervêm empenhadamente em discussões democráticas realizadas numa organização plural, unitária e de massas que funciona democraticamente.
Ao deixar-nos, o Piló deixou-nos, porém, o seu exemplo de militante modesto e aguerrido!
Os pescadores têm uma divida de gratidão pela sua acção e os sindicalistas com quem trabalhou, de todas as Correntes de Opinião, guardam dele uma memória de um Camarada sempre presente em todos os momentos, quer de discussão quer da luta - Honra à sua memória!
A CSS da CGTP-IN rende-lhe homenagem, à família enlutada endereça as suas condolências e aos seus Amigos e Camaradas dirige uma fraterna saudação, confiando que o exemplo da sua vida se projectará na acção de outros militantes.
O Secretariado Nacional da CSS da CGTP-IN
19 de Agosto de 2025

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