01 agosto 2013

A DIIREITA CONTINUA A ATACAR

 1. A reforma fiscal do Governo da Direita está em marcha!
Coerente com a sua ideologia, o Governo de Passos Coelho e de Paulo Portas está a organizar uma reforma fiscal para o Capital e contra a classe trabalhadora e restantes classes populares, o Estado Social e o desenvolvimento e recuperação económica. Digamos que o Governo do PSD/CDS não está a fazer “a” reforma fiscal; está a fazer a “sua” reforma fiscal!

A reforma da Direita é a do IRC, só. Esta é aquela que a comissão presidida por Lobo Xavier apresentou e que se resume na redução do pagamento de impostos das grandes empresas. Inclusive, aumenta, em certas condições, 50% do PEC – pagamento especial por conta, dos actuais 1000.00€ para 1500.00€, imposto este pago pelas micro, pequenas e médias empresas. Quer dizer, para que o grande Capital acumule ainda mais riqueza, até os micro, pequenos e médios empresários têm que contribuir com a redução dos seus rendimentos!


2. A reforma fiscal que importa fazer em Portugal é uma outra, politicamente global.

Em primeiro lugar, uma reforma que se destine a um país que está integrado na UE e pertence à zona euro, ou seja, que não pratique o dumping fiscal. A concorrência fiscal entre países com a mesma moeda é uma corrida para o abismo a médio prazo e que vai correr inexoravelmente a coesão económica e social em cada país.

O posicionamento de princípio de quem defende o projecto europeu deverá ser a da importância e urgência de uma política fiscal da zona euro.

Esta é uma reivindicação essencial de quem defende a harmonização no progresso e a coesão económica e social! Não é possível manter uma situação em que um país em dificuldades, como Portugal, sofre a concorrência fiscal de um outro para os quais se deslocam, ao abrigo da Livre Circulação de Capitais, as grandes empresas do PSI 20, como é o caso da Jerónimo Martins e do Banco Espírito Santo. Estas empresas, entre muitas outras, “refugiaram-se” respectivamente na Holanda e no Luxemburgo com um único objectivo e interesse: não pagarem impostos em Portugal e pagarem os impostos nesses países. Porquê? Porque cá pagam mais e lá pagam menos impostos!

Neste quadro, reivindicar-se no Conselho Europeu e nas instâncias comunitárias a reforma fiscal europeia é fundamental. Se todos os países da Zona euro continuarem a concorrer entre si para baixarem os impostos com o argumento que essa é a forma de captar IDE, Investimento Directo Estrangeiro, tal corrida vai levar a que os impostos, meio fundamental para suportar o Estado Social, baixem drasticamente, o que o vai colocar em causa a médio prazo, com a dimensão que actualmente possui!

Em segundo lugar, Portugal necessita de baixar os impostos, sim, mas do IRS, do IVA e do IMI. Estes são os impostos que a generalidade dos cidadãos paga. Os cidadãos, não pagando os elevados níveis de impostos que actualmente pagam, também por esta via adquirem poder de compra, que é uma das condições de estimular o mercado interno, elemento essencial para a recuperação da economia. Recordamos que a maioria do nosso tecido económico está vocacionado para este mercado.

Em terceiro lugar, o IRC poderá baixar, ou não, podendo ter que se manter ou mesmo aumentar, conforme os reflexos que a redução dos impostos anteriores e o imposto sobre as grandes fortunas, que deverá ser fortemente agravado, produzir nas contas públicas. O fundamental é que as receitas arrecadadas pelo Estado não poderão baixar!

Em quarto lugar, o combate à evasão e à fraude fiscal deverá ser impulsionado, seja com a atribuição de novos recursos humanos, tecnológicos e materiais às respectivas entidades inspectivas e as sanções legais aos infractores deverão agravadas.


3. Esta é “a” reforma fiscal que Portugal necessita. Por isto, o combate a esta pretensa reforma e pela reforma fiscal necessária é mais um dos que temos que travar.

O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais foi categórico quando questionado na última reunião da Concertação Social, face à solução que o Governo tinha perante a quebra previsível, segundo o próprio estudo da “Comissão Lobo Xavier”, de cerca de 1200 milhões de euros em 2018: tem-se que se baixar as despesas públicas. Quer dizer, redução do Estado Social (menos educação, saúde e segurança social) e cortes na Administração Publica (mais despedimentos)! É isto que nos espera – se a Direita levar esta política avante!

Este é um exemplo paradigmático das consequências da feroz concorrência fiscal entre países. Ou, por outras palavras, do continuo abaixamento dos impostos do Capital. Acresce que a “nacionalização” do sistema fiscal numa zona monetária com moeda única subverte o seu funcionamento e, a prazo, tem efeitos perversos na sua própria existência. Numa união económica e monetária, existe, só com uma politica fiscal comum europeia pode obviar a este processo!


4. Mas o PSD/CDS tem uma ambição: tornar a sua reforma fiscal perene, ou seja, que se mantenha mesmo depois de perder as eleições e deixar o Poder e o PS as vença. Para isso vai fazer todos os (im)possíveis para envolver o PS nesta operação.

Foi também para isto que o Presidente da Republica reconduziu o Governo em vez de o demitir e convocar eleições, como se impunha! É também para isto que o Presidente da Republica elogiou melifluamente o esforço de diálogo com todos os partidos, tentando tecer uma teia de compromissos que amarre futuramente o PS. Porém, estamos firmemente convictos que tal manobra do Presidente da Republica e da Direita será frustrada!


5. Abordemos também esta questão numa perspectiva ideológica e politica.

O PS, que sempre defendeu o projecto europeu e a coesão económica e social e a Justiça Social, certamente que vai continuar a fazê-lo também neste momento – e o projecto europeu, comandado pela Direita neoliberal e conservadora, não evolui, antes pelo contrário, com politicas desta natureza, enfraquece-se e pode ser colocado em causa. Por isto, a defesa pelo PS de uma linha politica que defenda o projecto europeu e a coesão económica e social, é coerente com o seu passado e com o seu posicionamento político.

Para o PSD, esta questão é extremamente relevante porque a proposta de redução de IRC e de aumento, em certas condições do PEC, vai ferir a sua base social de apoio, que se encontra em grande parte nesta categoria de cidadãos. Como também possui influência nos trabalhadores por conta de outrem, esta posição significa que vai chocar frontalmente com os interesses directos da sua própria base social de apoio. Mas esta posição demonstra, mais uma vez, que se rendeu completamente ao neoliberalismo porque, agora também na “questão fiscal”, recusa uma perspectiva europeísta e aposta numa perspectiva “nacionalista”, quer dizer, de concorrência entre estados-membros, de realização de dumping fiscal efectivo. Esta é a posição neoliberal.

O PCP certamente vai combater esta proposta mas vai recusar, porque sempre foi visceralmente contra o processo de construção europeia, ter uma proposta global, o que reforça a “nacionalização” do processo, mas torna totalmente ineficaz, do ponto de vista político, a sua posição já que não existem, no actual quadro, soluções nacionais.

O BE tem uma oportunidade de ouro para afirmar uma visão europeísta de esquerda – apresentando uma proposta de, simultaneamente, combate ao dumping fiscal e de reforço do projecto europeu com uma visão de esquerda descomprometida com objectivos de governação, ou seja, mais radical nas medidas de reforma fiscal a efectivar.

O CDS, “pai” desta reforma fiscal, é coerente – é o representante do grande Capital e de uma visão “nacional” e pouco europeísta da política. Esta é, de facto, “a” sua reforma!
Neste contexto, é o Partido Socialista que tem todo o espaço e a grande responsabilidade, sem contradições internas, entes pelo contrário, coerentemente com as suas tradições e princípios, de defender as posições políticas necessárias para defender o projecto europeu e proteger os interesses da grande maioria dos cidadãos de todas as classes.


6. Neste quadro, os sindicalistas socialistas da CGTP-IN têm pela frente mais um importante combate – mas é um combate que vale a pena porque é por valores e por um projecto que desde sempre os galvaniza: uma Sociedade Democrática, desenvolvida, solidária e de Justiça Social inserida numa União Europeia de paz e com elevados níveis de coesão económica, social e regional!

Lisboa, 01 de Agosto de 2013

Carlos Trindade
Secretário-Geral da Corrente Sindical Socialista
da CGTP-IN

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