Quando surgem novos problemas e grandes
desafios, como a precariedade, os novos empregos e tipos de contrato ou
plataformas, impedindo vidas dignas, nomeadamente aos jovens trabalhadores;
quando se impõe a redução e reorganização do tempo de trabalho e os algoritmos
tomam conta da vida laboral; quando a emergência climática destrói empregos e
as multicrises e as transições digital e energética ameaçam os empregos que
conhecemos, constatamos a ausência de respostas por parte da maior organização
sindical portuguesa.
Saída de um Congresso em que se
exigia renovação de pessoas e métodos, a CGTP adotou um ainda maior fechamento,
deixando de ter nos seus órgãos executivos quem, pela sua representatividade e
presença ativa nos locais de trabalho, tem de ser tido em conta e assumir um
papel mais relevante na condução da luta que é de todos. Quando precisamos de
redes, cooperação e solidariedade europeia, vemos uma prática isolacionista que
em nada beneficia uma resposta eficiente do todo sindical, que, para além das
diferenças, que existem, precisa de unidade na ação. Quando se impõe ousadia e
compromisso, renovação e inovação sindical, temos uma deriva sectária, falta de
transparência, duvidosa representatividade, burocracia sindical ao serviço de
estratégias alheias e negacionismo da sua própria crise.
Quando, por falta de funcionamento
democrático, o Conselho Nacional confederal reuniu dois anos e meio sem a
participação de todos os sindicalistas socialistas; quando a simples distribuição
das propostas alternativas, vindas da corrente socialista ou da corrente
bloquista foi sistematicamente recusada; e quando se esperaria que o Congresso
último resolvesse o diferendo e engrandecesse o projeto unitário, este assumiu
a ruptura e os sindicalistas socialistas ficaram ineditamente fora da Comissão
Executiva, para onde mais uma vez os sindicalistas bloquistas foram barrados;
quando as guerras avançam, a CGTP não pode ter dualidade de critérios nem reticências
na defesa do direito dos povos à autodeterminação.
A composição político-partidária
da direção da CGTP não tem hoje autonomia nem correspondência alguma com a
realidade sociopolítica em terreno laboral. Tal se confirmou nas comemorações
do 1º de Maio 2024, marcadas, principalmente no Porto, por um separatismo
social inexplicável, expulsando do desfile organizações diversas, chamando até
a polícia para tal impor. Aliás, o desfile de Lisboa evidenciou uma deriva
inaceitável: o pano da frente da manifestação foi empunhado exclusivamente por
elementos da maioria comunista dominadora da CGTP. Situação que se repete na
Concertação Social, com representações amputadas na sua diversidade interna.
Agora, governados pela direita,
com a extrema direita em crescendo, como é possível que seja quando na CGTP-IN
a desunião e falta de democracia interna mais se manifesta? O que mais se impõe
é o reforço e abertura da organização, a unidade, a capacidade de propor,
lutar, negociar com ganhos.
Mas a CGTP, a grande central
unitária dos trabalhadores portugueses, mostra-se cada vez menos unitária e
sofre o domínio e controlo duma força partidária. A CGTP evidencia-se cada vez
menos de massas e muito menos autónoma. Assim perde credibilidade e vai
desgastando o seu rico capital histórico. Assim tem perdido relevância. Assim,
perde poder e, no jogo político social, não conta; faz de conta.
Nós, ex dirigentes, também somos
CGTP e sabemos que esconder a crise, para não mostrar debilidades, não é
solução: assumir, enfrentar e reforçar-nos quando solucionamos os
problemas! Isso sim. Demos muito do nosso esforço ao longo das nossas vidas ao
movimento sindical. Não podemos silenciar o alerta necessário. É
PRECISO e URGENTE:
·
Recuperar a autonomia, respeitando
o lugar dos partidos e recusando o domínio sectário e organizado de um partido
sobre a orientação, direção e funcionamento da CGTP, que conflitua com a
diversidade de convicções políticas dos trabalhadores e os afasta do
sindicalismo;
·
Recuperar o caráter unitário efetivo da
CGTP-IN, fiel às origens históricas, e adotar uma política real de unidade na ação
com outras organizações sindicais, de trabalhadores e movimentos sociais, no
respeito pelas distintas identidade;
·
Adotar uma democracia inclusiva, com
debate efetivo, onde a voz e sensibilidade de todos conte, e promover a real participação,
prestação de contas, transparência e real circulação de informação para
construir as orientações e ação da central, rejeitando o funcionamento
centralista da CGTP,
·
Desenvolver um debate amplo e participado,
promover a análise concreta da realidade e responder às mudanças profundas e novos
desafios do mundo do trabalho, sem o habitual discurso triunfalista que
ignora fragilidades e erros próprios, investindo
na análise autocrítica dos erros, fraquezas e insuficiências próprios.
Os princípios da CGTP, a
sua matriz original tem de ser recuperada. É preciso democracia interna,
controlo democrático e participação sem discriminação! É preciso transparência!
É urgente o fim do centralismo autoritário e sectário da atual maioria! É
preciso autonomia e independência! É preciso unidade a sério! É urgente que
todos os que querem um sindicalismo de classe, democrático, autónomo e
solidário tenham lugar e se sintam bem na CGTP!
Os SIGNATÁRIOS
Ex-membros da Comissão Executiva |
|
Adão Mendes Américo Monteiro Oliveira Armindo Carvalho Augusta de Sousa Carlos João Tomás Carlos Trindade Eduardo Chagas |
Emídio Martins Fernando Jorge Fernandes Florival Lança Maria Conceição Rodrigues Maria Fátima Carvalho Ulisses Garrido Vivalda Silva |
Ex membros do Conselho Nacional |
|
António Avelãs António Gomes Antonio Guerreiro António Morais Augusto Pascoal Branco Viana Carlos Amado Carlos Lopes Deolinda Martin Fernando Fidalgo |
Fernando Lima Francisco Alves João Maneta José Costa Velho José Pinheiro Manuel Grilo Manuel Pinto Silva Maria Graça Silva Maria José Miranda Mariana Aiveca |
Ex-membros de sindicatos e uniões da CGTP |
|
Cipriano Pisco Vitor Brilhante |
Vitor Cavalinho Jorge Magalhães |
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