Artigo de opinião de Carlos Trindade e Fernando Gomes da Corrente Sindical Socialista da CGTP-IN sobre as celebrações do 1.º de Maio em tempos de pandemia publicado hoje no Expresso online.
No Jornal Expresso:
1.º de maio em tempos de pandemia
1º de Maio é uma data emblemática para os trabalhadores e o movimento sindical de todo o Mundo. A generalidade dos democratas e progressistas reconhecem-se no 1º de Maio!
Anualmente, comemoramos o 1º de Maio para honrarmos um passado doloroso e os nossos mártires mas, simultaneamente, renovar um compromisso comum na construção de um futuro mais promissor.
Em Portugal, comemorar o 1º de Maio é também revisitar um momento feliz da nossa memória histórica. Foram as grandiosas manifestações do 1º de Maio em 1974 que conferiram indelevelmente à Revolução o apoio popular maciço, expresso em largas centenas de milhares de populares que, de Norte a Sul, erigiram o 25 de Abril como a acção libertadora de um Povo oprimido por quarenta e oito anos de fascismo!
A pandemia que nos assola transformou a nossa vida individual e colectiva.
Hoje, o combate pela vida impõe medidas drásticas e condicionadoras. As suas consequências reflectem-se em todas as esferas da actividade económica, vida social, acção política e práticas culturais.
Somente os protofascistas rejeitam as evidências científicas e consequentes medidas sanitárias para combaterem a pandemia e/ou utilizam a actual situação para imporem inaceitáveis restrições à Liberdade e à Democracia.
A questão que se coloca, pois, é: como comemorar o 1º de Maio em tempos de pandemia?
O 1º de Maio é perene!
Não é uma circunstância dramática, como a que vivemos nestes tempos, que lhe retira o carácter simultaneamente memorialista e de compromisso para o futuro.
Acresce que as medidas tomadas contra a pandemia têm sido utilizadas por patrões sem escrúpulos contra os direitos dos trabalhadores, aumentando o desemprego, a precariedade e a pobreza. É necessário denunciar e combater estas situações, exigir medidas duras contra estes abusos e sancionar estes oportunistas!
Mas é claro que a pandemia impõe medidas excepcionais adequadas aos tempos excepcionais que vivemos. Não é possível que as comemorações do 1º de Maio de 2020 tenham a habitual participação popular, com largas dezenas de milhares de trabalhadores e suas famílias, irmanados num ambiente de forte emotividade, festividade e combatividade!
Como comemorar o 1º de Maio em tempos de pandemia?
Comemorando-o de forma simbólica!
As comemorações não poderão ter o habitual cenário enquadrador de povo trabalhador. A sua substituição por uma acção simbólica, na singeleza dessa acção, equilibrará a ausência desse cenário mítico. Não podendo ter esse cenário, não será a presença de quinhentos, mil ou mil e quinhentos sindicalistas que o vai substituir – bem pelo contrário, prejudicará seriamente a própria comemoração!
Nestes tempos de pandemia, este carácter simbólico da comemoração elevará a sua carga subjectiva e projectará emocionalmente naqueles que, confinados em casa, acompanhem a acção, o compromisso em como, em 2021, estaremos novamente juntos nos desfiles, enchendo avenidas e praças deste país!
Somente desta forma as comemorações do 1º de Maio de 2020 estarão à altura das actuais circunstâncias excepcionais.
O acatamento das medidas sanitárias, o respeito pelas tradições operárias e a consideração pelas crenças populares exigem que, em tempos de pandemia, o 1º de Maio seja comemorado de forma simbólica.
A CGTP-IN, contudo, decidiu organizar as comemorações deste ano com alguma participação popular (desconhecendo-se o numero de participantes previstos, se bem que reduzido).
Considerámos este modelo das comemorações totalmente desadequado e fundamentámos a proposta de comemorações simbólicas. Mas a nossa posição não teve acolhimento.
Porém, temos a convicção de que a forma simbólica não retiraria valor ou reduziria a importância das comemorações! Bem pelo contrário, a sua dignidade atribuir-lhe-ia mais respeito popular e maior consideração social.
Mesmo os ateus e agnósticos ficaram impressionados ao assistirem ao Papa Francisco sozinho, na Praça de S. Pedro, na missa da Páscoa!
Viva o 1º de Maio!
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